Sistema Endócrino de Insetos e Disruptores endócrinos
Fonte:
http://www.essaseoutras.com.br/wp-content/uploads/2011/02/metamosfose-monarca.jpg
Os
animais são, sem duvida, seres encantadores. Serviram e servem de inspiração
para inúmeros estudiosos, artistas, músicos e os apaixonados pela natureza. No
Reino Animalia, os insetos se destacam em importância e afinidade devido a
inúmeros fatores, sendo por serem exemplos em organização social, transmissores
de doenças, devastadores de plantações, responsáveis pela polinização de
inúmeras plantas etc. Quem nunca se encantou pela organização social de um
formigueiro ou até mesmo com a linda metamorfose de uma borboleta? O vídeo
abaixo mostra a transformação de uma lagarta até o estágio livre e delicado de
borboleta, mas, o que é responsável por essa mudança? O que ocorre na fisiologia
de um animal desses pra ocasionar tal transformação? O que acontece no corpo de
um inseto que o permita passar pelo processo de muda?
O
sistema endócrino mantém uma forte interação com o sistema nervoso e tem como
responsabilidade a secreção de hormônios. Os hormônios são substancias químicas
produzidas no corpo de um ser vivo capazes de influenciar inúmeros processos
fisiológicos, já que são transportados pelos fluidos corporais e, em locais
diferentes do seu local de síntese, funcionam como sinalizadores celulares. Nos
insetos, essas substâncias foram estudadas em poucas espécies e sabe-se que
estão envolvidos em alguns processos como o processo de muda, metamorfose,
reprodução etc.
O sistema endócrino dos insetos está dividido em centros (Fig.1) e, segundo Gullan e Cranston (2007), nos centros neuronais, neuro glandulares ou glandulares é que os hormônios são produzidos nos insetos. Sendo que alguns centros podem ter a produção de hormônio como uma função secundária, contudo, a maioria destes são especializados nessa função. Esses centros que compõem o sistema endócrino dos insetos são as células neurosecretoras, os corpora cardíaca, as glândulas protorácidcas e os corpora allata.
O sistema endócrino dos insetos está dividido em centros (Fig.1) e, segundo Gullan e Cranston (2007), nos centros neuronais, neuro glandulares ou glandulares é que os hormônios são produzidos nos insetos. Sendo que alguns centros podem ter a produção de hormônio como uma função secundária, contudo, a maioria destes são especializados nessa função. Esses centros que compõem o sistema endócrino dos insetos são as células neurosecretoras, os corpora cardíaca, as glândulas protorácidcas e os corpora allata.
Fig.
1. Centros endócrinos principais de um inseto. Fonte: http://img.docstoccdn.com/thumb/orig/25694502.png
- Adaptado.
As
células neurossecretoras (CNS) ou células neuroendócrinas são neurônios modificados
encontrados, principalmente, no cérebro desses animais, as quais produzem a
maioria dos hormônios até então conhecidos, além de regularem a liberação de
alguns hormônios sintetizados em outros centros.
As
corpora cardiaca são um par de corpos
neuroglandulares localizados atrás do cérebro em cada um dos lados da aorta.
Esses corpos produzem seus neuro-hormônios e ainda estocam e liberam outros
neuro-hormonios, como hormônio protoracicotrópico (PTTH), o qual estimula a
secreção nas glândulas protorácicas. Estas glândulas recebem esse nome por se
localizarem no tórax ou posteriormente à cabeça e são difusas e pares, tendo
como secreção um ecdisteróide (geralmente ecdisona ou hormônio da muda) que,
como o nome sugere, estimula o processo de muda da epiderme. Além desses
corpos, ainda existem os corpora allata, os
quais tem como função a secreção do hormônio juvenil (HJ), regulador da
metamorfose e reprodução. Esses corpos glandulares são pares, discretos e estão
localizados nos lados do trato digestivo desses animais.
As
células neurossecretoras (CNS) ou células neuroendócrinas são neurônios modificados
encontrados, principalmente, no cérebro desses animais, as quais produzem a
maioria dos hormônios até então conhecidos, além de regularem a liberação de
alguns hormônios sintetizados em outros centros.
As
corpora cardiaca são um par de corpos
neuroglandulares localizados atrás do cérebro em cada um dos lados da aorta.
Esses corpos produzem seus neuro-hormônios e ainda estocam e liberam outros
neuro-hormonios, como hormônio protoracicotrópico (PTTH), o qual estimula a
secreção nas glândulas protorácicas. Estas glândulas recebem esse nome por se
localizarem no tórax ou posteriormente à cabeça e são difusas e pares, tendo
como secreção um ecdisteróide (geralmente ecdisona ou hormônio da muda) que,
como o nome sugere, estimula o processo de muda da epiderme. Além desses
corpos, ainda existem os corpora allata, os
quais tem como função a secreção do hormônio juvenil (HJ), regulador da
metamorfose e reprodução. Esses corpos glandulares são pares, discretos e estão
localizados nos lados do trato digestivo desses animais.
Os
neurormônios ou neuropeptídeos são proteínas mensageiras reguladoras de vários
processos como regulação interna, metabolismo, reprodução, desenvolvimento,
alterações na coloração, regula contrações cardíacas e musculares etc. Para
alcançar os sítios terminais de ação, esses hormônios podem agir diretamente ou
indiretamente, no primeiro caso podem ser transportados por axônios ou pela
hemolinfa (podendo ser solúveis a água ou transportados ligados a proteínas do
fluido) desses animais e, no segundo, podem estimular ou inibir glândulas
endócrinas como as protorácicas e corpora
allata, já citadas anteriormente.
A
figura abaixo (Fig. 2) demonstra de forma simplificada o processo de
metamorfose de um inseto, nele demonstram a ação dos diferentes hormônios pra
promover tal processo. Vamos tomar esse
processo como exemplo pra explicar os mecanismos envolvidos em tais processos.
O cérebro libera o hormônio PTTH no sangue, o qual vai ativar a glândula
protorácica responsável pela síntese e secreção da ecdisona. È importante
salientar que a presença de colesterol na dieta desses animais é imprescindível
para a produção desse hormônio. A associação da ecdisona ao hormônio juvenil é
a o que promove a retenção das características juvenis da larva até completar o
desenvolvimento da larva, por isso que, para ocorrer o processo de metamorfose
completo, é necessário que o hormônio juvenil não mais esteja na hemolinfa,
aumentando a concentração deste novamente quando o individuo já estiver adulto e
ativo reprodutivamente. Sendo assim, qualquer alteração na concentração normal
necessário desse hormônio nos estágios pode provocar má formação do animal.
Durante o processo de metamorfose, como também
pode ser verificado na figura 2, ocorrem mudas, as quais possibilitam o
crescimento do corpo do animal. Para tanto, os hormônios anteriormente citados
estão intimamente envolvidos. A liberação da ecdisona pela glândula
protorácica, estimulada pelo PTTH, vai atuar de modo a promover a apólise, ou
seja, a retirada da cutícula velha da epiderme. O hormônio juvenil age nesse
processo de forma a quando encontrado em altas concentrações é formado a
cutícula do tipo larva e em concentrações baixas é produzida uma cutícula do
tipo adulto e outros eventos da metamorfose acontecem. Segundo Randall et.al
(2000), outros dois hormônios estão envolvidos também nesse processo. Sendo que
o desprendimento da cutícula da pupa, em algumas espécies, é possibilitado pelo
hormônio da eclosão. O processo de endurecimento da cutícula recém formada após
a muda ser expandida com movimentos respiratórios para cobrir todo o animal é
realizada a partir da presença do hormônio bursicon.
Fig. 2. Esquema simplificado
da metamorfose de um inseto. O cérebro e glândulas liberam hormônios que agem
sobre outras glândulas ou liberam hormônios que promovem o crescimento, as
mudanças morfofisiológicas nesses animais e o processo de muda que permite
essas modificações. Fonte: http://www.qualibio.ufba.br/imagens/capitulo6/f043.jpg.
Como vimos, o hormônio
juvenil tem papel extremamente importante no desenvolvimento normal desses
animais. Desse modo, por essa capacidade de alteração, ele e seus análogos
sintéticos são utilizados como meios de controle de pragas. Contudo, para este
fim, outros compostos tem sido utilizados.
Então,
já vimos a composição do sistema endócrino e suas funções, mas, o que seriam os
disruptores endócrinos? Onde os encontramos? Quais são os seus efeitos?
Os
disruptores endócrinos (desreguladores endócrinos ou interferentes endócrinos)
são substancias endogenadas sintéticas ou naturais que promovem alterações no
sistema endócrino, e conseqüente distúrbio hormonal.
Apesar
de tais substâncias terem sido banidas, elas permanecem na natureza devido a
sua alta estabilidade, são lipofílicas, tem baixa pressão de vapor, são bioacumulativa
sendo facilmente transportadas pelos rios, acumulando-se em seu sedimento e
solo, o que ajuda na sua dispersão e difusão no meio ambiente. O seu acúmulo
através da cadeia trófica representa um grande risco à saúde humana, que se
encontra no topo da cadeia.
A
exposição aos disruptores endócrinos pode acontecer de diferentes formas, seja
através do contato direto ou indireto com essas substâncias. A exposição pode
se dar tanto em áreas urbanas ou rurais, podendo estas substâncias estarem
presente em resíduos ou subprodutos de usos industriais dos mais diversos, no
próprio lixo domiciliar, no uso de alguns tipos de medicamentos e produtos para
esterilização de equipamentos cirúrgicos, na ingestão de água e alimentos
contaminados. Uma das maiores exposições da população aos disruptores
endócrinos é através da ingestão de alimentos contaminados.
Alguns
desreguladores endócrinos são solúveis em gordura, assim, altos níveis podem
estar presentes em carne, peixe, ovos e derivados do leite. A exposição também
pode vir de pesticidas residuais que contaminam frutas, vegetais e em baixas
concentrações a água potável. A exposição aos disruptores endócrinos nas fases
iniciais do desenvolvimento do feto pode causar telarca, pubarca, menarca, ou
puberdade precoce; atraso puberal; ginecomastia e má formação reprodutiva.
Os
disruptores hormonais eles agem por mecanismos fisiológicos no corpo humano,
aumentando ou diminuindo a concentração hormonal original, bloqueiam sua ação
ou os substituindo, alteram dessa forma o sistema endócrino. Os efeitos dos disruptores são bastante
variáveis. Alguns metais pesados afetam as funções de algumas enzimas, inibindo
sua ação no organismo, tomando o lugar de alguns hormônios que originalmente
têm tal função (como a glicólise, a lipólise, a síntese protéica). Assim é que
o cádmio liga-se ao grupo sulfidrila (-SH) das enzimas e inibe sua ação, o
chumbo inibe a ação do ácido δ-aminolevolínico desidratase (ALAB), enzima
necessária para a síntese do heme 3 (levando à anemia do indivíduo), o arsênico
forma complexos com enzimas inibidoras do trifosfato de adrenosina (ATP),
alterando o metabolismo do corpo e o
mercúrio tem afinidade também com o grupo sulfidrila (-SH) de enzimas,
proteínas, seroalbumina e hemoglobina (PATNAIK, 2002; FERREIRA, 2003). Dada a
variedade de tais substâncias e de seus efeitos, listaremos alguns dos seus
principais efeitos: atrofia testicular,
redução na qualidade e quantidade de esperma; hipotireoidismo decorrente de
alterações funcionais da hipófise; abortamento
espontâneo; aumento de irregularidades menstruais; alteração nas glândulas
cebáceas; neoplasia de tireóide; supressão imunológica; mal de Parkinson; síndrome
de Paralisia Cerebral, danos ao cerebelo em filhos de mães que consumiram
peixes com metilmercúrio.
Segundo
algumas pesquisas, os disruptores endócrinos podem pôr em perigo a
sobrevivência de espécies inteiras e, em longo prazo, da própria espécie
humana. Pois muitos dos compostos artificiais resistem aos processos normais de
decomposição e se acumulam no organismo, submetendo humanos e animais a uma
contaminação de baixo nível, mas de longa duração, aumentando os problemas de
reprodução e crescente frequência de anormalidades genitais em crianças, como:
testículos não descendidos (criptorquidia), pênis sumariamente pequenos, além
de hipospadias, um efeito no qual a uretra que transporta a urina não se
prolonga até o final do pênis. Alguns estudos com animais indicam que a
exposição a substâncias químicas hormonalmente ativas, durante o período
pré-natal ou na idade adulta, aumenta a vulnerabilidade a tipos de câncer sensíveis
aos hormônios, como os tumores malignos na mama, próstata, ovários e útero.
Devido
aos efeitos drásticos já conhecidos causados pelos disruptores endócrinos, é
necessários algumas medidas de modo a minimizar esses efeitos. Entre essas
medidas estão o uso de outras substancias no controle de pragas ou uso do
controle biológico, o controle no lixo industrial e hospitalar, evitar a
contaminação da água que umas das principais formas de contaminação dos
alimentos, controle de qualidade das embalagens de alimento, evitando assim, a
ingestão direta e indireta dessas substâncias.
Referências:
ALVES,
Crésio; FLORES, Lindiana C.; CERQUEIRA, Taís S.; TORALLES, Maria B. Exposição
ambiental a interferentes endócrinos com atividade estrogênica e sua associação
com distúrbios puberais em crianças. Cad.
Saúde Pública, vol.23, n°5.
Rio de Janeiro: May 2007.
BILA, Daniele M.; DEZOTTI, Márcia. Desreguladores
endócrinos no meio ambiente: efeitos e consequências. Quim. Nova, Vol.
30, No. 3, 651-666, 2007.
GARCIA, E. S.;
CASTRO, D.P.; FIGUEIREDO, M. B.; GONZALEZ, M.S.; AZAMBUJA, P. Sistema
Neuroendócrino de Insetos. In: Vários autores. Tópicos Avançados em Entomologia Molecular. Brasil: Instituto
Nacional de Ciência e Tecnologia em Entomologia Molecular, 2012. Disponível em:
http://www.inctem.bioqmed.ufrj.br/biblioteca/arthrolivro-1/capitulo-8-o-sistema-neuroendocrino-de-insetos/view.
Acesso em: 2 dez. 2012.
GUIMARÃES,
J.R.P.F. Disruptores endócrinos no meio ambiente: um problema de saúde pública e
ocupacional. Disponível em: http://www.acpo.org.br/disruptores_endocrinos.pdf.
Acesso em: 5 dez. 2012.
GULLAN, P. J.; CRANSTON, P. S; MCINNES, K. Hansen. Os insetos: um resumo de
entomologia. 3.ed São Paulo, SP: Roca, 2008. 440 p.
RANDALL, David J.,; BURGGREN, Warren; FRENCH, Kathleen. Eckert
fisiologia animal : mecanismos
e adaptacoes. 4. ed Rio de Janeiro: Guanabara, 2000. 729 p